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A Bíblia diz que a terra tem 6000 anos?

  • Foto do escritor: Universo Teísta
    Universo Teísta
  • 10 de abr. de 2020
  • 7 min de leitura

Atualizado: 25 de abr. de 2020



A semana da criação descrita em Gênesis 1, como bem sabemos, narra a origem de muitos aspectos do mundo ao nosso redor e como os seres vivos e a humanidade foram criados.


Porém, é perceptível, diante nas Escrituras, que Adão e Eva e os animais não foram os primeiros seres criados no Universo. Satanás, por exemplo, é mencionado no relato da tentação (Gn 3:1; Ap 12:9) sem que haja qualquer referência à sua origem, sugerindo que ele já existia naquela semana inicial.


O capítulo 14 de Isaías, por sua vez, completa esse quadro nos informando que, quando Lúcifer se rebelou contra Deus, alguns elementos cósmicos já existiam: ele desejava subir “acima das estrelas de Deus” (v. 13) e “acima das mais altas nuvens” (v. 14). O texto também menciona o “monte da congregação” (v. 13), dando a entender um local físico em que se congregam seres criados. Na Bíblia, a frequente menção aos anjos e espíritos caídos é um lembrete de que não estamos a sós nesta vasta criação. Essas evidências nos indicam que o Universo e outros seres além de nós já existiam antes da semana da criação.


O livro de Jó encontramos dois textos que claramente sugerem a existência de outros seres criados além de nós. Em primeiro lugar, quando Satanás compareceu perante o Senhor (Jó 1:6, 7), o texto faz referência a outros “filhos de Deus”, dando a entender que nosso planeta não era o único habitado.


Embora seja possível supor que esses seres vieram à existência depois da criação da Terra, Jó 38:4 a 7 volta a mencionar os “filhos de Deus” cantando e se rejubilando enquanto Deus “lançava os fundamentos da Terra”. Essa passagem deixa claro que, a semana da criação, Deus era observado por uma plateia de admiradores. Crer que todo o Universo passou a existir a partir da semana da criação traz sérias dificuldades para o intérprete desses textos.


Além do mais, o próprio relato de Gênesis 1:1-3 deixa claro que, quando Deus criou a luz, no primeiro dia, o Espírito de Deus “pairava por sobre as águas”. Dando a entender que, antes do primeiro dia da criação, havia água.


Sendo assim, embora os eventos ocorridos na semana da criação tenham ocorrido há milhares de anos atrás, a Bíblia fornece várias evidências de que o Universo, assim como a própria Terra em seu estado físico, é muito mais antigo que isso.


O INTERVALO NO CAPÍTULO 1 DE GÊNESIS



Um texto extraído de uma publicação patrocinada pela Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia diz: “Alguns acreditam que tudo foi criado na semana da criação... outros acreditam que Deus criou a matéria inanimada preexistente”. [1]


O texto não esconde a existência de dois conceitos dentro de uma mesma comunidade. O primeiro aceito por alguns, é que tudo foi criado na semana da criação (o universo, estrelas, constelações galáxias e etc.), conhecido como teoria da “ausência de intervalo”. [1] [2]


E o segundo, aceito por outros, infere que a semana da criação, que determinou o aparecimento de seres vivos, foi realizada depois de uma etapa de pré-existência de matéria inanimada, conhecido como teoria do “interlavo passivo”. [1] [2] Em outras palavras, a preexistência de matéria inanimada sugere a realidade do primeiro momento da criação quando foram criados os “céus e a terra”; logo veio o intervalo onde a “terra estava sem forma e vazia” e finalmente acontece a semana da criação no período de sete dias. [1] [2]


É realmente muito importante que não se confunda a teoria do intervalo passivo, que é o que acabamos de ver, com a do “intervalo ativo”, que trata da opinião conhecida como a teoria de ruína-restauração. Segundo esta opinião, Gênesis 1:1 descreve uma criação originalmente perfeita há um tempo desconhecido. [2] Satanás era o regente deste mundo, mas por causa de sua rebelião (Isaías 14:12-17), o pecado entrou no Universo. Deus condenou a rebelião e reduziu o mundo ao estado arruinado e caótico descrito em Gênesis 1:2. Os que mantêm esta opinião traduzem Gênesis 1:2 como “a terra tornou-se sem forma e vazia”. E depois Deus teria restaurado a terra na semana da criação. [2]


Porém esta teoria está errada puramente por razões de gramática. Gênesis 1:2 claramente encerra três cláusulas nominais e o sentido fundamental de cláusulas nominais em hebraico é algo fixo, um estado; não uma sequência ou ação. [2] Segundo as regras da gramática hebraica, precisamos traduzir “a Terra era sem forma e vazia”, e não “a Terra tornou-se sem forma e vazia”. Assim a gramática hebraica não deixa lugar para a teoria de um intervalo ativo. [2]


Já a ideia do intervalo passivo se fortalece ao analisar o verso 2 no texto hebraico, onde aparecem as palavras tohu vabohu, “sem forma e vazia”, sobre as quais está inserido o acento rebi’a. Os acentos na língua hebraica têm função de relacionar uma palavra com outras. Essa relação pode ser de união ou de separação. O acento rebi’a, que aparece nas palavras mencionadas é um distintivo, da segunda classe superior, ou seja, a sua função é fazer separação ou indicar pausa. [1]


Observando dessa forma, pode-se ver que a frase “estava sem forma e vazia” faz separação entre as frases “no princípio Deus criou os céus e a terra” do verso 1, com as palavras que descrevem a semana da criação. [1]


No entanto, não há referências bíblicas que poderiam possibilitar a medição do tempo da criação dos “céus e da terra” e da duração desse período. O conhecimento científico em relação a certos processos físicos e químicos que ocorrem na natureza contribui para dar base de sustentação à ideia do Intervalo e permiti manter uma argumentação sobre o tempo quando ocorreu o primeiro momento da criação. [1]


Assim, o universo e a terra poderiam ter sido criados em um período muito longo como na teoria do Big Bang, eras geológicas da terra teriam realmente acontecido semelhante ao descrito pela ciência convencional, o planeta teria ficado num estado “sem forma e vazio,” ou seja, caótico e sem vida, por muito tempo, e depois Deus teria organizado nosso mundo e criado a vida em seis dias literais há milhares de anos atrás.


MAS QUANDO ACONTECEU A SEMANA DA CRIAÇÃO?



Até aqui já vimos que de acordo com a bíblia, a criação se deu em duas etapas: a primeira, quando aconteceu a origem do universo e da terra, e a segunda, quando aconteceu a semana da criação, efetuando a transformação da terra e a criação da vida.


Mas então alguém poderia perguntar: quando aconteceu esse período da semana da criação? Bem, normalmente para responder essa questão, os teólogos calculam com base nas genealogias descritas na bíblia.


Ao contarmos então, as genealogias de Gênesis 5 e 11, chegamos ao tempo de 2.000 anos. Somado ao fato de que a genealogia de Gênesis 11 termina com Abraão, e ele viveu em 2.000 a.C., poderíamos chegar à conclusão de que a semana da criação aconteceu há 6.000 anos atrás.


Esse método de datação da cronologia bíblica foi inventado pelo arcebispo James Ussher (1581-1656), da Irlanda. O cálculo elaborado por James Ussher trabalhava com a aritmética simples da contagem dos anos, lidos literalmente nas genealogias descritas em Gênesis.


Todavia, não há dúvida de que os resultados desses esforços estão equivocados. O problema é que, como muitos de nós fazemos ainda hoje, o famoso arcebispo leu Gênesis como se ele tivesse sido escrito no tempo e na cultura da sua época, na Irlanda do século 17.


As genealogias no Antigo Oriente Médio não funcionavam como as genealogias dos tempos modernos e contemporâneo.


O livro de Gênesis tem nítidas intenções literárias em sua organização. Um dos elementos mais importantes do livro é a questão dos números e seu significado literário. Um dos números que merece destaque em Gênesis é o 10, que pretende dar o sentido de algo completo.


Tudo indica que a lista genealógica do capítulo 5 traz 10 gerações especificamente escolhidas, e não todas as gerações envolvidas na história. Ou seja, elas não eram completas. Trata-se de uma lista selecionada.


É muito provável que haja “saltos” intencionais entre uma geração e outra. Do ponto de vista do livro, o importante é apresentar os “dez” selecionados.


Há também a presença de palavras hebraicas que, apesar de serem traduzidas às vezes como “pai” e “filho”, podem significar “ancestral” e “descendente”. Assim, devemos concluir que os autores bíblicos não têm a intenção de falar de uma geração direta de pai para filho, pois as genealogias muitas vezes possuem lacunas, sendo o importante mencionar nomes grandes para o autor.


Assim, as genealogias de Gênesis podem muito bem ser interpretadas do seguinte modo, seguindo para o restante do texto:


E viveu Maalaleel sessenta e cinco anos, e gerou um ANCESTRAL de Jerede. E viveu Maalaleel, depois que gerou um ANCESTRAL de Jerede, oitocentos e trinta anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Maalaleel oitocentos e noventa e cinco anos, e morreu.” (Gn 5:15-17)


Exemplo disso são as gerações posteriores a Levi até a época de Moisés/Josué, que em Êxodo 6.16-20 só nos é dito quatro nomes, mas em 1 Crônicas 7.20-27 é dito doze nomes ao invés de quatro:


Outro exemplo é as gerações de Arão até Seraías, que em 1 Crônicas 6: 3-15 apresenta vinte e dois nomes, enquanto que em Esdras 7: 1-5, apresenta apenas 16 nomes:


Portanto, há mais gerações em Gênesis 5 e 10 do que imaginamos a princípio. E considerando que os indivíduos naquela época viviam muito mais do que nós (Gn 5, 10 e 11), o simples acréscimo de algumas gerações pode acrescentar milênios a genealogia total. Mas no que diz respeito aos dias da semana da criação em si, esse foram literais, se quiser saber mais sobre isso, clique aqui.


FONTES:


[1] AGUILAR, R. Os céus, o intervalo e a semana da criação. Parousia, São Paulo, v. I, p. 12-13, 1° Semestre 2010. ISSN ISSN 1518-8248.


[2] DAVIDSON, R. M. NO PRINCÍPIO: COMO INTERPRETAR GÊNESIS 1. Revista Criacionista, sem data. Disponível em: <http://www.revistacriacionista.org.br/artigos/FC53_NoprincipioComoInterp.asp>. Acesso em: 16 maio 2018.


REFERÊNCIAS:


FEE, Gordon D; STUART, Douglas. Entendes o que lês?: um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica, 3ª Ed., São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 38, 39.


LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes: uma breve história da interpretação, 3ª Ed., São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 24.


Apud. Hugh Henry, Daniel Dyke, God of the gaps: Gaps in Biblical Genealogies Make it Impossible to Calculate the Date of Creation, 2ª Ed., Mars Hill Center, 2016, Locais do Kindle 751-753, Edição do Kindle.


John Millam, The Genesis Genealogies, 2010.

 
 
 

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